Do sítio do Revolution/Revolución, voz do Partido Comunista Revolucionário, EUA (em inglês a 4 de agosto de 2025 e em castelhano a 6 de agosto de 2025).
Gaza à beira de um “aumento exponencial de mortes devido à fome”
EUA e Israel bloqueiam a ajuda necessária e persistem no genocídio

Milhões de pessoas já estão a sofrer uma fome desesperada e agora Gaza está a precipitar-se para mortes em massa devido à fome.
Mais de 159 palestinos em Gaza, incluindo 90 crianças, morreram de fome desde o 7 de outubro de 2023. Isto deve-se exclusivamente às restrições impostas por Israel e ao bloqueio quase total da distribuição de alimentos em Gaza. Dezenas de pessoas morreram de fome só na semana passada e o ritmo das mortes está a acelerar.
O especialista em fome Alex de Waal avisa: “Todas as evidências apontam para que estejamos num limiar em que [a fome em massa] se irá tornar exponencialmente pior. A cada dia que isto não seja resolvido, será mais difícil fazê-lo retroceder.” E acrescenta: “Um grande número de habitantes de Gaza, e em particular as crianças, manterão uma marca biológica da fome para o resto da vida.”
Na semana passada, um grupo apoiado pela ONU avisou que “está em gestação o pior cenário de fome possível”1. A UNICEF declarou que cerca de 320 mil crianças estão em risco de desnutrição aguda.
O que causou este criminoso pesadelo foi a destruição levada a cabo por Israel, com o apoio dos EUA, dos hospitais, do sistema de água, da rede elétrica e da produção de alimentos em Gaza; foi o seu bloqueio de alimentos, água, combustíveis, medicamentos e outros bens essenciais; e a sua investida total contra o povo palestino.2
“Tudo o que sabemos sobre como a fome se desenvolve diz-nos que o que Israel fez criou essas condições”, concluiu Waal. A fome é a classificação mais elevada e mais grave da desnutrição em massa; e, quando é causada por seres humanos, constitui um crime de guerra.
A indignação mundial e a farsa mortal dos esforços “humanitários” dos EUA e Israel

O intolerável horror que está a ocorrer em Gaza, dia após dia, noite após noite, tem provocado uma repulsa e indignação global contra Israel, bem como contra os EUA.
A resposta dos fascistas Trump e Netan-Nazi (o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu) consiste em mentiras e distrações, tentando aliviar alguma da pressão política e, ao mesmo tempo, ganhar margem de manobra para continuarem a sua campanha sistemática de fome e genocídio contra o povo palestino.
Ainda que Trump tenha dito que há crianças famintas e uma “fome real” em Gaza, e que está a trabalhar num plano para “alimentar as pessoas”, o que isto significa é infligir ao povo palestino mais terror do tipo Jogos de Fome. Trump gaba-se de os EUA estarem a “dar dinheiro e coisas”, mas queixou-se literalmente: “Ninguém disse ‘Muito obrigado’. E seria bom ter pelo menos um obrigado.”
Pois bem, seu monstro maldito: talvez uma razão para “ninguém” o ter feito é a ajuda “humanitária” dos EUA não estar a ser usada para acabar com a fome, mas para criar armadilhas mortais para os palestinos esfomeados.3 E talvez uma outra razão seja os EUA estarem a fornecer milhares de vezes mais fundos para bombas, aviões, mísseis e outras armas de morte em massa de civis: mais de 22 mil milhões de dólares num só ano, com outros 675 milhões a caminho!4
Entretanto, Netan-Nazi mente descaradamente quando diz: “Não há nenhuma política de fome em Gaza, e não há fome em Gaza.”
Mas até Netan-Nazi foi forçado a fazer algumas concessões. No entanto, como escreveu a revista +972 no artigo As concessões de ajuda de Israel simplesmente oferecem aos habitantes de Gaza uma sobrevivência sob um estrito controlo: “Para desviar a indignação internacional, a estratégia de Israel é clara: manter o controlo suficiente para matar com impunidade e suficiente alívio para parecer humano ao fazê-lo.”
As supostas “medidas humanitárias” de Israel incluem uma “pausa tática na atividade militar” de 10 horas diárias em Gaza, o que significa uma breve pausa nos bombardeamentos; a abertura de “rotas seguras” para permitir a entrada de mais caminhões de ajuda em Gaza; e lançar ajuda alimentar a partir de aeronaves.
Mas nada disto faz sentido:
- São necessários pelo menos entre 500 e 600 caminhões de alimentos por dia, mas Israel só está a permitir um “gotejar” de ajuda (apenas 109 caminhões a 29 de julho, por exemplo), uma “gota no oceano” segundo os grupos de ajuda. E Israel encerrou as rotas mais seguras dentro de Gaza, o que torna quase impossível a entrega da ajuda, e muito menos que ela chegue àqueles que mais desesperadamente dela precisam. Israel tem permitido a atuação de gangues criminosos5 e, devido à fome ser tão intensa e generalizada, há multidões a atacar os comboios de ajuda, impedindo que os alimentos cheguem aos mais necessitados. Israel também dispara rotineiramente sobre as multidões de palestinos que tentam obter ajuda dos caminhões da ONU (ou nos centros da FHG, Fundação Humanitária de Gaza). Um exemplo: 51 palestinos foram massacrados pelas forças israelitas a 30 de julho, quando tentavam chegar aos caminhões de ajuda da ONU no Cruzamento de Zikim para Gaza. No total, cerca de 111 palestinos foram assassinados e 820 ficaram feridos só nesse dia, entre os quais 91 que procuravam ajuda.
- No total, entre a terça-feira 29 de julho e a sexta-feira 1 de agosto, Israel matou cerca de 230 palestinos e feriu muitos mais, elevando o número de mortes desde o 7 de outubro de 2023 para 60 138 e o de feridos para 146 269.6
- Um trabalhador humanitário qualificou os lançamentos aéreos de alimentos como “uma grotesca distração da realidade do que é necessário no terreno em Gaza neste momento. Nunca conseguirão entregar o volume, a consistência, nem a qualidade da ajuda e serviços necessários.” Há pessoas a ser mortas pela “ajuda” chega por via aérea. Outras são forçadas a rebuscar a areia e o chão à procura dos grãos de arroz espalhados pelo impacto da queda.7
Uma armadilha mortal: A Fundação Humanitária de Gaza
A Fundação Humanitária de Gaza (FHG) tem sido o principal foco da ajuda “humanitária” dos EUA. É uma armadilha mortal, cruel e perigosa que os responsáveis dos EUA continuam a elogiar. A 1 de agosto, Steve Witkoff, o enviado de Trump, e Mike Huckabee, o embaixador dos EUA em Israel, visitaram um dos centros da FHG, e Huckabee comentou entusiasmado: “A FHG fornece mais de um milhão de refeições por dia, uma façanha incrível!”
Waal escreveu que o sistema da FHG “tem ignorado totalmente as condições no terreno, o que levanta a questão de saber se foi Israel que concebeu intencionalmente a fome.” Certamente!
- Os centros da FHG não chegam nem perto de conseguir alimentar os mais de 2 milhões de habitantes de Gaza. Só há quatro centros da FHG; antes de Israel os ter encerrado, havia 400 centros da ONU.
- Os palestinos têm de percorrer quilómetros para chegarem aos centros da FHG, o que é impossível para as muitas pessoas idosas, mulheres e crianças que mais precisam de alimentos. Os centros só abrem entre 10 e 12 minutos antes de os escassos fornecimentos esgotarem.
- Mesmo que a FHG distribuísse um milhão de “refeições” por dia, o que parece muito inverosímil, isso significaria que metade da população não recebe nada e que a restante população está a receber um terço ou menos do que necessita.
- Os peritos alertam que as caixas de rações da FHG carecem de nutrientes que são essenciais para as populações famintas, especialmente as crianças.
- O pior de tudo é que esses centros de ajuda são literalmente armadilhas mortais: pelo menos 1373 palestinos foram assassinados quando tentavam obter ajuda alimentar, e 859 foram assassinados perto dos centros da FHG, principalmente pelas forças israelitas (FDI), mas também por mercenários dos EUA. Um ex-contratado da FHG descreveu como os soldados das FDI abateram deliberadamente crianças palestinas num centro da FHG e cometeram outros crimes de guerra em conjunto com agentes dos EUA.
Trump insiste em que Israel permaneça no comando... do genocídio

Enquanto a fome assola Gaza, continua o bloqueio israelita, os seus massacres diários, a incessante destruição dos sistemas de saúde e de água de Gaza8 e a redução de grande parte de Gaza a um inferno de escombros. A semana passada, Netanyahu apresentou uma proposta para anexar partes de Gaza. Os seus aliados de direita regozijaram-se por se estar a aproximar a tomada de toda a Gaza e a sua recolonização.9
Trump insiste em que isto continue. Ele disse que Israel iria continuar a cargo de toda a ajuda que entra em Gaza. E escreveu nas redes sociais: “A maneira mais rápida de acabar com a crise humanitária em Gaza é o Hamas RENDER-SE E LIBERTAR OS REFÉNS!!!”
Isto é Trump não só a culpabilizar as vítimas, mas a continuar a apoiar, a financiar e a apoiar o causador das vítimas! É uma justificação que dá luz verde aos captores de Gaza — os criminosos de guerra israelitas — para continuarem a manter o controlo dos recursos vitais das suas vítimas. A maneira mais rápida para “acabar com a crise humanitária” é Israel parar de causar esta crise humanitária!
Isto é uma clara luz verde de Trump para que Israel intensifique o seu genocídio contra o povo palestino em Gaza, alimentando a sua total e absoluta destruição.
No domingo, 3 de agosto, o jornal Haaretz relatou que Netanyahu prometia agir mais energicamente e que as forças armadas israelitas se estavam a preparar para expandirem a sua ofensiva em Gaza, incluindo “em áreas sensíveis e campos de refugiados palestinos no centro de Gaza onde até agora as FDI tinham evitado atividades terrestres.”
A indignação mundial e a urgente necessidade de acabar com o genocídio
A crescente crise de fome em Gaza está a propagar vagas — e ondas de choque — em todo o mundo. Pela primeira vez, os principais grupos de direitos humanos israelitas, B'Tselem e Médicos pelos Direitos Humanos em Israel, publicaram relatórios que concluem que Israel está a cometer genocídio em Gaza.10
Waal advertiu: “Israel e a comunidade internacional têm uma janela de oportunidade de distribuírem ajuda vital a milhões de pessoas. Não podemos esperar até que chegue a hora de contar as sepulturas das crianças que faleceram, declarar isso uma situação de fome — ou, na realidade, um genocídio — e dizer, simplesmente ‘Nunca mais’.”
Isto criou fendas no duradouro muro de apoio incondicional a Israel e levou a que algumas potências e porta-vozes imperialistas finalmente se pronunciassem. O jornal New York Times publicou um editorial que dizia: “A fome em Gaza é uma crise moral” [inglês/castelhano].
Isto revela algumas das divisões entre os governantes deste sistema: que não é possível tolerar este tipo de genocídio descarado. Mas ainda não foi cortado o financiamento nem o Estado de Israel foi sancionado abertamente.
É por isso que são tão urgentemente necessários agora protestos em massa e atos de consciência de milhões de pessoas a exigir o fim deste genocídio levado a cabo por Israel e pelos EUA.
Os EUA fornecem 70% do financiamento para o genocídio em Gaza! Temos uma responsabilidade especial de acabar com isso!
Um estudo recente da Universidade Brown incluía uma revelação atordoante: a de que se estima que os 22,76 mil milhões de dólares em ajuda militar a Israel e operações dos EUA relacionadas (num ano) constituem cerca de 70% dos custos do criminoso massacre de Israel em Gaza. 70%!11
Não se trata simplesmente de um genocídio israelita, nem nunca o foi. Trata-se de um genocídio israelo-estadunidense, com os EUA a fornecerem a maior parte do financiamento, sem o qual Israel não poderia levar a cabo o seu depravado massacre e fome!
Os EUA são desproporcionalmente responsáveis pelo genocídio em Gaza e, por isso, neste país, temos uma responsabilidade desproporcional de mobilizar, protestar e erguer a voz para exigir o fim do genocídio!
E temos uma responsabilidade desproporcional de exigir que o regime fascista de Trump seja expulso do poder. Trump está neste preciso momento a alimentar este genocídio. Este regime está a reprimir violentamente os manifestantes que se têm pronunciado contra o genocídio. E está a agir rapidamente para esmagar toda a dissidência e protestos.
Fim ao cerco de Gaza — JÁ!
Fim ao genocídio levado a cabo pelos EUA e por Israel contra o povo palestino!
Em nome da humanidade, recusamo-nos a aceitar uns Estados Unidos fascistas!
O regime fascista de Trump tem de se ir embora — JÁ!
Página de recursos:
A investida genocida contra a Palestina — e Israel como gendarme do imperialismo dos EUA
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NOTAS:
1 Alex de Waal, “Netanyahu Is Choosing to Starve Gaza” [“Netanyahu escolheu lançar a fome em Gaza”], New York Times, 1 de agosto de 2025.
2 Israel anunciou o seu bloqueio a 9 de outubro de 2023, após o ataque reacionário do Hamas a 7 de outubro de 2023. E manteve-o basicamente até à declaração de um cessar-fogo a 19 de janeiro deste ano. Isso permitiu à ONU e outras organizações de ajuda inundarem Gaza com alimentos e suprimentos urgentemente necessários. Mas seis semanas depois, a 2 de março, Israel reimpôs o seu bloqueio e a 18 de março rompeu o cessar-fogo e retomou os bombardeamentos de Gaza.
3 Segundo a maioria dos relatos, os EUA alocaram 30 milhões de dólares à Fundação Humanitária de Gaza (FHG), embora também haja relatos de Israel ter fornecido 30 milhões de dólares à obscura FHG.
4 “More Than Half of Democratic Caucus Votes to Block U.S. Arms Sales to Israel” [“Mais de metade dos votos do Grupo Democrata foram a favor do bloqueio das vendas de armas dos EUA a Israel”], Democracy Now!, 31 de julho de 2025.
5 “Netanyahu defends arming Palestinian clans accused of ties with jihadist groups” [“Netanyahu defende o armamento de clãs palestinos acusados de ligações a grupos jiadistas”], The Guardian, 6 de junho de 2025.
6 Dos mortos, pelo menos 1860 eram crianças com menos de 2 anos, e mais de 2600 famílias foram exterminadas, com todos os seus familiares diretos assassinados. E é provável que o verdadeiro número total de mortes seja muito mais elevado.
7 Ver “As crianças estão a morrer de fome em Gaza — Trump diz a Israel para ‘terminar o trabalho’” [inglês/castelhano], revcom.us, 28/31 de julho de 2025.
8 Israel assassinou cerca de mil trabalhadores de saúde, encarcerou 330 e atacou e encerrou quase todos os hospitais de Gaza. Este assalto contínuo aos cuidados de saúde e às infraestruturas de Gaza contribuiu muito para o número de mortes por fome, porque não há água potável e há muito poucos medicamentos.
9 “Netanyahu Proposes Annexing Parts of Gaza Strip” [“Netanyahu propôs a anexação de partes da Faixa de Gaza”], Democracy Now!, 29 de julho de 2025.
10 O diretor da B'Tselem declarou: “O que estamos a ver é um ataque claro e intencional contra civis para destruir um grupo. Acho que todo o ser humano tem de se interrogar: Que fazer perante um genocídio?”
11 O estudo da Universidade Brown revelou que, entre 7 de outubro de 2023 e 30 de setembro de 2024, os EUA gastaram 17,9 mil milhões de dólares em assistência militar a Israel e 4,86 mil milhões de dólares em operações militares estadunidenses relacionadas na região. Ver “More Than Half of Democratic Caucus Votes to Block U.S. Arms Sales to Israel”, Democracy Now!, 31 de julho de 2025.