Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 28 de Março de 2005, aworldtowinns.co.uk

Protestos globais marcam o segundo aniversário da guerra do Iraque

A 19 de Março tiveram lugar manifestações em cidades de todo o mundo para marcar o segundo aniversário da invasão norte-americana do Iraque e a continuação da ocupação.

Num evento particularmente significativo, dezenas de milhares de pessoas participaram nos protestos de Istambul, Ancara e Adana, na Turquia. Houve manifestações em várias cidades da Alemanha. A polícia de choque atacou manifestantes nas ruas secundárias de Roma. Em Tóquio, manifestaram-se cerca de 10 000 pessoas. Os EUA viram protestos em centenas de vilas e cidades, incluindo Los Angeles, São Francisco e Nova Iorque. Várias acções de massas tiveram lugar à porta de instalações militares norte-americanas, como Forte Bragg, na Carolina do Norte, uma das maiores bases militares do país, onde milhares de pessoas se vieram manifestar. Também houve marchas e reuniões no Canadá (Montreal, Vancouver e Halifax), na Grécia (Atenas e Tessalónica), na África do Sul, na Malásia, no Brasil, no México, na Índia, no Chipre, na Suécia e na Dinamarca, entre outros países.

O Movimento de Resistência Popular Mundial (MRPM) apelou a que todos os seus membros e apoiantes se juntassem a esses protestos “onde quer que estejam a ser organizados”. O folheto emitido internacionalmente pelo MRPM dizia: “A movimentação sem precedentes de milhões de pessoas em todo o mundo em oposição a este crime estremeceu verdadeiramente a estrutura das relações de poder a nível mundial. Os governantes em todo o lado ficaram chocados com a velocidade com que essa oposição se espalhou e com a dimensão e a força que alcançou. Hoje, com os EUA a ameaçarem atacar e/ou invadirem outros países em todo o Médio Oriente e outras partes do mundo – da Síria ao Irão, da Coreia do Norte ao Nepal – esta é a lição mais importante a ser retida: só os povos podem pôr fim à ocupação do Iraque e a toda a ofensiva mundial imperialista de que ela é parte integrante.”

O que se segue são relatos enviados por correspondentes em Londres e Bruxelas.

Londres

A 19 de Março, o Centro de Londres testemunhou uma manifestação de protesto de cerca de 100 000 pessoas, segundo as estimativas dos organizadores. Começando em Hyde Park, seguiu para a Embaixada dos EUA e depois para a Praça Trafalgar.

A atmosfera era de gravidade e luta. A indignação dos manifestantes atingiu um ponto alto quando passaram pela embaixada dos EUA, onde a segurança era particularmente apertada. Blocos de cimento e barreiras de metal protegiam o edifício. Um grande número de polícias empurrava e estreitava o caminho. Os manifestantes começaram a gritar “Bush terrorista número um” e continuaram “George Bush, Tio Sam, o Iraque será o vosso Vietname”. Nesse momento, dois soldados que se tinham afastado do exército e tinham vindo a encabeçar a manifestação colocaram um caixão de papelão à frente da embaixada norte-americana. Tinha escritas as palavras “100 mil mortos”, referindo-se às vítimas civis iraquianas. À medida que a manifestação continuava, os manifestantes gritavam: “Blair mentiu, cem mil morreram”.

Este protesto não conseguiu mobilizar tanta gente como o histórico protesto de há dois anos atrás, quando entre um e dois milhões de pessoas se manifestaram em Londres. Porém, o sentimento antiguerra entre os habitantes da Grã-Bretanha não é de modo nenhum menor que o de então. De facto, muita gente que tinha acreditado nas mentiras de Bush e Blair sobre as armas de destruição em massa de Saddam está furiosa porque foi enganada.

A vasta maioria dos manifestantes era de uma geração mais nova, muitos deles despertados pela primeira vez para a vida política por esta guerra. A recusa dos governantes britânicos de escutar a oposição popular à invasão, a resistência do povo iraquiano e as denúncias sobre Abu Ghraib e outros crimes que mostram a natureza desta guerra – tudo isso trouxe mais apoio ao movimento contra a guerra e radicalizou muitas das pessoas envolvidas.

A escalada da intimidação dos EUA e da Grã-Bretanha contra os países oprimidos, a pretexto de “espalhar a democracia”, também foi rejeitada por muitos manifestantes. Além de gritarem “Fim à ocupação do Iraque”, os manifestantes, de todos os sectores da sociedade britânica, também gritaram “Não à guerra contra o Irão”, “Não à guerra contra a Síria” e “Tirem as mãos do Irão e da Síria”. A maioria dos manifestantes também expressou a sua solidariedade internacionalista com palavras de ordem em defesa do povo da Palestina, como “A Ocupação é um crime – Liberdade para o Iraque e a Palestina” e “Blair, Bush, FMI, quantas crianças mataram vocês à fome?”

Embora as estimativas da percentagem de mulheres variassem, ela era claramente enorme. Um bloco de mulheres declarava: “Não há libertação para as mulheres com a ocupação”, para citar uma faixa da Organização de Mulheres 8 de Março (de mulheres do Irão e do Afeganistão).

Outro elemento novo nesta manifestação foi a participação organizada de famílias de soldados britânicos mortos no Iraque. Rose Gentle, cujo filho foi morto em Baçorá em Junho passado, disse: “Esta é uma guerra injustificada, baseada numa mentira.” Dois soldados, que tinham decidido deixar o serviço, falaram à multidão.

O ambiente e a posição dos manifestantes foram uma grande inspiração para todos, especialmente para os que estabeleceram como sua a grande tarefa de acabar com o imperialismo. O Movimento de Resistência Popular Mundial uniu-se a outras forças progressistas e anti-imperialistas para formar um “Bloco Anti-Imperialista”. Atraídos pelas suas palavras de ordem revolucionárias e anti-imperialistas, muitos jovens juntaram-se ao bloco.

Entre os oradores da reunião que teve lugar quando a manifestação chegou à Praça Trafalgar, estava um ex-prisioneiro de Guantânamo que descreveu as atrocidades que ele e outros prisioneiros sofreram.

Bruxelas

Cerca de 150 000 pessoas, segundo os organizadores, encheram os largos boulevards (avenidas) de Bruxelas, sede da União Europeia.

Grupos com coloridos cartazes, bandeiras e balões escritos com palavras de ordem políticas, muitas delas satíricas, caminharam de uma ponta do centro da cidade para a outra. Os seus cartazes diziam: “George W. Bush: Terrorista”, “Bush – Procura-se”, “Fim à ocupação do Iraque” e “Fim à ocupação da Palestina”. A multidão era tão compacta que parecia que não havia nenhum espaço para mais nenhuma pessoa aí se enfiar. Os manifestantes gritavam palavras de ordem e cantavam ou tocavam tambores, como se estivessem a exorcizar Bush para fora de Bruxelas.

Um fenómeno novo foi que, ao longo do percurso, muita gente atirava folhetos das varandas das suas casas para a manifestação, para dar as boas-vindas às pessoas de todos os tipos e nacionalidades que passavam por baixo.

No centro da manifestação, algumas pessoas cantavam a Internacional, enquanto outras cantavam a música reggae tornada famosa por Bob Marley e Peter Tosh, “Get up, stand up, stand up for your rights” (“Levanta-te, mantém-te firme, defende os teus direitos”).

Dentro desse mar de gente, um pequeno grupo de nepaleses levava bandeiras e cartazes do Movimento de Resistência Popular Mundial, bem como de organizações nepalesas. As palavras de ordem do MRPM “Imperialistas e reaccionários tirem as mãos do Nepal” e “A libertação dos povos não é terrorismo” chamaram a atenção de muita gente.

Uma outra concentração teve lugar na estação de comboios de Bruxelas Norte, o destino final da manifestação, onde falaram dirigentes de sindicatos e de federações sindicais de toda a União Europeia. As palavras de ordem inscritas nas faixas dos sindicatos falavam de “Mais e melhores empregos”, “Defender a Europa social” e “Fim a Bolkesteine”, referindo-se a uma medida da União Europeia particularmente odiada por pôr em risco os salários mínimos e os direitos dos trabalhadores de toda a UE. Nenhum dos líderes sindicais disse uma única palavra sobre o Iraque. Muitas pessoas batiam palmas no final de cada intervenção e tocavam os seus tambores, mas outras estavam insatisfeitas. Uma adolescente, com um folheto numa mão e uma bandeira sindical vermelha na outra, gritava continuamente: “Vive la Révolution”.

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