Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 28 de Maio de 2007, aworldtowinns.co.uk

Os dois lados preparam-se para as manifestações contra o G8

Os dois lados têm estado a preparar-se para a cimeira anual dos dirigentes dos oito países mais poderosos do mundo (G8) em Heiligendamm (perto de Rostock, na Alemanha). Um vasto leque de organizações de toda a Europa está a planear uma variedade de acções para exporem, oporem-se e, nalguns casos, tentarem perturbar o funcionamento da reunião do G8.

Embora a cimeira do G8 só comece efectivamente a 6 de Junho, os grupos de apoio aos refugiados e aos migrantes já estão a percorrer a Europa nas suas caravanas. Numa espécie de aquecimento para os dois lados, milhares de pessoas manifestaram-se a 28 de Maio em Hamburgo, por ocasião de uma reunião de ministros dos negócios estrangeiros da UE e da Ásia. Além da globalização, o protesto também teve como alvo a repressão policial prevista para reduzir o impacto das principais actividades anti-G8. Quando, depois da manifestação, irrompeu um confronto, a polícia usou canhões de água, carregou com bastões sobre os manifestantes e prendeu 21 pessoas.

As actividades contra o G8 perto do local da cimeira terão início no sábado 2 de Junho, com uma manifestação gigante na cidade de Rostock, e continuarão até 8 de Junho, dia em que termina o G8. Uma coligação está a organizar uma Cimeira Alternativa; outra está centrada na organização de bloqueios. Dias Temáticos de Acção incluem o 3 de Junho sobre a agricultura global, o 4 de Junho sobre a migração e as fronteiras e o 5 de Junho sobre a militarização, a guerra e a tortura. Para 6 de Junho alguns grupos estão a planear bloquear as estradas para o aeroporto de forma a interromper a chegada dos representantes dos países participantes. Eles estão a planear essas acções para 7 e 8 de Junho, quando a cimeira termina.

Nos anos que passaram desde o aparecimento de um poderoso movimento antiglobalização na reunião de 1999 do G8 em Seattle, onde quer que os líderes e os gestores do mundo imperialista se reúnam, tem havido um verdadeiro movimento de massas que os persegue. Este ano, tal como anteriormente, a cimeira terá lugar numa zona escolhida pela possibilidade de ser isolada do resto do mundo, uma pequena cidade de descanso cercada pelo Mar Báltico por um lado e por campos pelo outro. Sabe-se que dois navios de guerra norte-americanos assumirão a responsabilidade pela segurança ao longo da costa. Longas cercas de segurança de arame farpado foram instaladas ao longo dos campos. O custo dos 13 quilómetros de cercas, de 2,5 metros de altura e equipadas com câmaras vídeo em circuito fechado, é calculado em mais de 12 milhões de euros. O Ministério alemão do Interior anunciou uma zona de exclusão com cerca de seis quilómetros de profundidade em torno do local. Uma manifestação prevista para 7 de Junho para o local da cimeira foi proibida. Os manifestantes tentaram anular nos tribunais as decisões do Ministério do Interior. A 25 de Maio, um tribunal alemão decidiu que os manifestantes não podiam ser afastados da cerca mais de 200 metros, mas a polícia disse que recorreria da decisão e que tentaria manter o plano original. Cerca de 10 mil polícias foram mobilizados para impedirem que os protestos interferissem com a última cimeira do G8 em Gleneageles, na Escócia, no ano passado. Calcula-se que a cimeira do G8 na Alemanha testemunhará a maior mobilização de polícias do país desde a II guerra mundial, com um custo de cerca de 100 milhões de euros. O Ministério do Interior disse que seriam reforçados os controlos de fronteira e que o tratado de Schengen, que supostamente garante a liberdade de movimentos na União Europeia para as pessoas de nacionalidade europeia, seria suspenso durante esse período.

Durante a última década, um crescente número de pessoas no Ocidente tem-se dado conta que o resultado do domínio imperialista tem sido mais guerra, miséria, pobreza, destruição e opressão para os povos do mundo. A globalização do capitalismo aumentou enormemente o fosso à escala mundial entre países imperialistas e países oprimidos e entre ricos e pobres. Diariamente, morrem milhares de pessoas devido à guerra, à fome e a doenças curáveis, como consequência directa ou indirecta dessas relações económicas e políticas e das políticas que as implementam. Há cada vez mais camponeses a matar-se para escaparem a dívidas que não conseguem pagar. Há cada vez mais mulheres que são perseguidas e capturadas por traficantes de carne humana. Quando os habitantes dos países pobres e/ou assolados pela guerra arriscam as suas vidas em busca de uma oportunidade de serem escravos nos centros imperialistas, são tratados como criminosos. Vivemos num planeta onde até a natureza é intensamente explorada e abusada pelo sistema dominante, numa infindável busca de lucro, de uma forma tal que ameaça o futuro da humanidade. É contra esta globalização que muitos milhares de jovens e outras pessoas se preparam para se erguerem.

Enfrentado todo este ódio ao poder e àquilo que muita gente vê, de uma forma ou de outra, como o sistema, o governo alemão desencadeou uma campanha de repressão que começou com rusgas na madrugada de 9 de Maio em seis cidades do norte da Alemanha. Mais de 900 polícias dirigiram-se a cerca de 40 locais, escritórios, livrarias, cooperativas, centros sociais, grupos alternativos de comunicação social e apartamentos ligados a activistas de esquerda. Para justificarem essas rusgas, invocaram o artigo 129a do Código Criminal que proíbe organizações “terroristas”. Embora 18 pessoas tenham sido detidas e interrogadas em esquadras da polícia, não foi formalizada nenhuma acusação contra nenhuma delas.

Em Hamburgo, foram visados um centro social e muitos bairros sociais. Também na cidade de Bremen tiveram lugar algumas buscas. Segundo o Grupo Internacional de Imprensa Campinski, “Muitos mandados de busca foram justificados com alegações de que os autores do livro Autonome in Bewegung (Autónomos em Movimento) seriam membros de um grupo terrorista. Esse livro, que já vai na sua terceira edição, foi usado para justificar as buscas a livrarias, editoras, arquivos e outros projectos de esquerda. O livro está disponível em todas as livrarias e nunca antes foi objecto de perseguição criminal.” Uma pessoa que tinha feito uma extensa busca sobre uma empresa – a sua navegação na Internet foi registada pela polícia – foi acusada de fogo posto contra essa empresa.

Em Berlim, fizeram buscas em pelo menos sete apartamentos e escritórios, incluindo dois escritórios em Bethanien, um centro social em Kreuzberg, uma livraria em Mehringhop e as instalações de vários projectos de comunicação social alternativos. A polícia invadiu um escritório que tinha um servidor Internet que alojava os sítios Internet de muitos projectos de esquerda e alternativos. Eles conseguiram ter acesso a informação sobre listas e outros endereços de correio electrónico. Foi noticiado que as autoridades confiscaram todo o conteúdo da caixa de correio electrónico de um advogado e outra que pertencia a um escritório de juristas.

Algumas pessoas foram sujeitas a longos processos de identificação e obrigados a fornecer amostras de ADN à polícia. Muita gente acha que a polícia usou as acusações de “terrorismo” e outras como pretexto para campanhas cujo verdadeiro propósito foi recolher dados sobre os protestos e os seus organizadores e para intimidar os activistas e as pessoas em geral, de forma a perturbar ou impedir os protestos. Isso ficou relativamente óbvio quando, várias semanas depois, foi revelado que a polícia tinha recolhido “amostras de cheiro” de algumas pessoas, gotas minúsculas de suor recolhidas de roupa interior roubada ou de cadeiras depois de um interrogatório, de forma a criar uma “base de dados de cheiros humanos”, para que “cães farejadores” pudessem ser usados para depois as localizarem em qualquer altura, incluído durante as acções contra o G8. A razão para um porta-voz da polícia ter anunciado publicamente o uso dessa técnica pode ter sido uma tentativa de intimidação.

Estes actos de repressão provocaram como que um ricochete, desencadeando actos de solidariedade, protestos com vários milhares de pessoas e, nalguns casos, batalhas de rua em meia dúzia de cidades do norte da Alemanha nas semanas anteriores à cimeira do G8, mesmo antes da manifestação de 28 de Maio em Hamburgo. A polícia prendeu 11 manifestantes perto do local da conferência dos ministros das finanças do G8 em Potsdam, a 19-20 de Maio.

Um dos activistas do centro social de Berlim que foi sujeito a uma busca disse: “Quem atrai a cimeira do G8, também atrai os protestos contra ela, (...) nenhuma tentativa de criminalizar este movimento nos impedirá de expor as desigualdades mundiais durante a cimeira do G8.”

Principais Tópicos